UM MANUAL PARA DIRIGIR A EMPRESA
Estava recordando uma característica cultural do brasileiro: A aversão para a leitura de manuais. Compramos todos os tipos de mercadorias, desde os produtos mais básicos até os mais complexos. Inclusive, se enquadram nestes últimos os celulares – maravilhas do mundo moderno. Um aparelho que hoje se tornou tão indispensável quanto tomar banho. Acontece que desejamos e exigimos os produtos mais modernos e atualizados, mas não lemos o manual. É impressionante o relato das empresas que ao avaliarem os atendimentos ao consumidor, se deparam com o fato de que a esmagadora maioria de consultas e reclamações realizadas pelos consumidores jamais ocorreriam se lessem o manual. Creio, inclusive, que cada um de nós tem uma história para contar em que perdeu muito tempo tentando ligar ou fazer funcionar algo e que, uma vez esgotada a paciência, descobriu no manual a forma correta de execução poucos minutos depois.
Pois bem: A contabilidade nada mais é do que uma ferramenta, um manual para “funcionar” a empresa. Antigamente, nos primórdios da civilização, à medida que o comércio se desenvolvia, igualmente crescia a necessidade de um controle que pudesse quantificar o resultado desse comércio e o acúmulo de riqueza. Neste caso, a riqueza poderia ser definida como o resultado final daquela atividade. Assim, era preciso quantificar o resultado da atividade comercial, do tipo, tantas cabeças de gado compradas ou vendidas, mais as cabeças de gado nascidas, menos as mortas ou perdidas. Com esse número, era possível apurar o sucesso ou o fracasso do comércio.
Com o passar do tempo, as atividades e os relacionamentos humanos foram se tornando cada vez mais complexos, o que invariavelmente acarretou no aumento da complexidade dos controles inerentes a estas novas atividades. Antigamente, poucas atividades exigiam tal controle como o comércio - senão a única. Com o decorrer do tempo, foram surgindo outras atividades acessórias, como a prestação de serviço, dentre os quais os serviços financeiros e a indústria.
Hoje, acompanhando as inúmeras transformações da nossa sociedade, a contabilidade igualmente tornou-se uma complexa ciência, preparada que está para registrar sistematicamente todos os fatos que podem ocorrer nas inúmeras atividades econômicas. Mas, tudo isso voltado para a sua função básica: a de mostrar o resultado final da atividade. E esse é o “manual” da empresa, seja qual for a sua atividade.
Para tirar melhores frutos desse “manual” vamos escrever uma série de artigos para ajudar nosso amigo empresário a “entender” melhor a sua empresa e assim colher os resultados, isto é, um lucro maior ou um prejuízo menor.
Mas, comecemos do básico: O objetivo principal da contabilidade é demonstrar com exatidão a situação da pessoa jurídica. Como o nome diz, a pessoa jurídica é essencialmente diferente da pessoa física. E essa é uma das principais confusões que o empresário comete: Em muitos, ainda existe a noção de que, se sou dono, posso fazer o que quiser com a minha empresa, e, por isso, posso “mandar” a mesma pagar as minhas contas pessoais e, por que não? Depositar dinheiro particular na conta da empresa.
Pois, esta é uma fonte perigosa de erros na atividade empresarial, em que a confusão e mistura das contas da pessoa física com a jurídica invariavelmente provoca um efeito devastador, pois resulta em inexatidão nas demonstrações contábeis.
Pior, essa “simples” ocorrência impede que se possa verificar se a empresa teve lucro ou prejuízo. Muitos empresários não cansam de reclamar: minha empresa não dá lucro! Exatamente: Quando a empresa paga o colégio dos filhos, aquela “continha” da sogra, a consulta imprevista do médico, enfim, pequenas despesas que “aparecem”, tudo isso “mascara” a real situação da empresa e deixa o empresário incapaz para responder uma simples pergunta: Minha empresa dá lucro ou prejuízo? Houveram casos em que, ao apurar esses pequenos gastos, chegou-se a um valor de mais de dez mil reais! E a pessoa jurídica, coitada, “não dava lucro”, segundo o empresário.
Assim, a regrinha básica é: O ideal seria não fazer os pagamentos pessoais pela empresa. Mas existem casos em que isto é impossível, pois, às vezes, somente a empresa possui conta corrente, por exemplo. Nesses casos é imprescindível, ao fazê-lo, utilizar uma correta classificação, verificando se aquele valor faz parte do salário dos sócios, por exemplo, ou de uma retirada de lucros, ou, apenas, de um “empréstimo” que será posteriormente devolvido à empresa. Tudo isso, são “detalhes” que permitirão uma melhor visão e a correta apuração do lucro e da rentabilidade de uma empresa em determinado período.
No próximo artigo, continuaremos dando algumas dicas ao nosso amigo empresário.
Marcos Honorato
Diretor da Marcato Contabilidade
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